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E-Literatura para o século XXI

04/09/2011 / Ana Mello

Se o leitor digital vai abandonar o formato tradicional do livro, com suas folhas de papel impresso? Pode ser. A resposta é do norte-americano Nick Montfort. Ele foi o protagonista do 10º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural, na manhã da quarta-feira, 24/08. Montfort que é crítico, teórico e estudioso da arte computacional, além de professor do Massachusssets Institute of Technology (MIT), teve como pauta o tema “Literatura e Imaginário no século XXI”. O evento fez parte da programação oficial da 14ª Jornada de Literatura.


O pesquisador completa a afirmação inicial com uma constatação. “Alguns escritores de literatura eletrônica abandonaram o meio impresso. Porém criar um espaço para a literatura na rede, não significa suplantar o livro ou o meio impresso”, considera Montfort. Ele também destaca a democratização de acesso e criação: “o leitor pode ser também autor”.
Longe de uma transcrição em bits daquilo que consta em papel, a ficção interativa além de letras, utiliza-se da convergência de linguagens. Forma, som, cor, movimento e a ação do leitor/usuário se tornam elementos fundamentais da obra, que por vezes se aproxima da dinâmica de um vídeo-game. Talvez a poesia concreta, num imprevisto flerte visionário, seja o que existe de mais próximo da e-literatura. 

A estranheza e a desconfiança com que algumas pessoas percebem a criação literária interativa – uma forma de denominar o texto produzido para e na rede – é considerado como natural pelo norte-americano. “As pessoas esperam que esta nova forma de escrita seja similar a algo que elas já conhecem”, diz. Para exemplificar, Nick traça um paralelo com a reação de expectadores do cinema ao advento da televisão. Houve quem optasse por apreciar apenas o que se produz para um meio ou outro, mas ambos coexistem.

Além disso, o autor compreende que pela inovação esta nova forma de ler e produzir adiciona um elemento de fascínio à descoberta. “A literatura eletrônica encontra uma vantagem por não ser conhecida”, afirma.
O fato apontado por Montfort é que a informática trouxe uma nova forma de trabalhar com a linguagem e de ler. No meio eletrônico o leitor não é passível. O texto não é estático. Pelo contrário, o que se busca é a provocação e sua resposta. . “As pessoas precisam saber como lidar com esta interface, que é sempre mais difícil, mas isto porque as pessoas estão tentando inovar”, comenta.

Mas, como preservar esta produção que é imaterial? A questão foi levantada pelo próprio público. Qual a forma de garantir a perenidade de obras produzidas em meio eletrônico, que não constam em catálogos ou estantes de bibliotecas? Nick afirmou que a preservação da mídia computacional é uma das preocupações dos estudiosos da área. Tanto, que ele publicou em parceria de outro pesquisador, a obra Acid Free Bits. Obviamente, o texto integral está disponível em ambiente digital, no endereço www.eliterature.org. O material instrui sobre formas de preservação da literatura eletrônica. Uma das questões abordadas é a tecnologia adotada e a forma com esta pode se tornar obsoleta, deixando de oferecer interesse, ou mesmo acesso à criação.

 

Fonte: Amanda SchArr - http://onacionalnajornada.wordpress.com/